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Autonomia e consumos: Quando os valores não batem certo

5 min de leituraMercado automóvel
Os condutores mais atentos já se deram conta de que os valores anunciados e reais, referentes aos consumos de combustível e de energia, assim como a autonomia dos veículos elétricos, muitas vezes divergem. Isto apesar de terem sido homologados em testes padrão. Mas porque é que isto acontece? Venha daí, vamos explicar-lhe tudo aqui mesmo.
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Gosta de conhecer as características dos automóveis ao pormenor? Seja um particular ou um responsável por uma organização, é importante para si perceber os consumos reais da frota que tem à sua disposição? Então, já se terá dado conta das diferenças nos valores sobre consumo de combustível ou de energia, nos ensaios efetuados aos automóveis. Sim, referimo-nos aos valores anunciados pela marca e as medições em condições reais de utilização. Antes de torcer o nariz, desconfiado por tais discrepâncias, é importante ter a noção de que estas variações devem-se a um conjunto de fatores que não são inteiramente previsíveis. Como é natural, pelas consequências em termos de concorrência comercial entre as marcas, o tema é relevante e tem gerado acesas discussões. Como veremos mais adiante, os próprios especialistas das marcas têm opinião.

Marcas a declarar consumos e autonomias

Antes de mais, importa recordar que os construtores de automóveis estão obrigados a comunicar a autonomia ou o consumo de combustível de acordo com um ciclo padrão. Entre 1992 e setembro de 2017 foi o protocolo NEDC - New European Driving Cycle - que ditou a regra. Este veio a ser substituído pelo WLTP ou WLTC. A norma WLTP passou a incluir o ciclo RDE em situações de condução reais, para além do ciclo WLTC realizado em laboratório. A intenção de introdução do novo ciclo está relacionada com a necessidade de apresentar indicadores em linha com a realidade. Ou seja, para fazer com que a autonomia reivindicada ou os valores de consumo de combustível reflitam melhor a realidade que os condutores não conseguem. O WLTC utiliza velocidades mais elevadas - até 135 km/h e uma velocidade média global superior -, é mais dinâmico, considera mais o peso real do veículo, bem como outros elementos.

Conhecer as regras do ciclo WLTP - Worldwide Harmonised Light Vehicles Test Procedures

Olhando para este tema, mais ao pormenor, percebemos que o WLTP inclui um conjunto de procedimentos de ensaio para homologação de automóveis, entre os quais o um teste WLTC - Worldwide Harmonised Light-duty Vehicle Test Cycle - em ambiente de laboratório e RDE - teste prático de condução. O teste WLTC dura cerca de 30 minutos. Primeiro, o veículo é conduzido sobre rolos durante 23 quilómetros a uma velocidade média de 47 km/h. O ciclo tem quatro fases de intensidade: da mais baixa à mais alta. Depois, o veículo é testado a uma velocidade superior a 130 km/h, tudo isto a uma temperatura de 14°C.

Parado também conta

A necessidade do veículo estar parado também é considerada, pelo que este passa 13% do teste, ou pouco mais de três minutos, em repouso. O WLTP tem em conta o equipamento adicional do automóvel, para o qual o construtor deve testar o consumo e a autonomia ou recalculá-los da forma definida. O teste WLTP é realizado com o ar condicionado desligado. Mas os testes do WLTC não deixam de ser um exercício laboratorial, para garantir que os valores comunicados são comparáveis. Isto permite aos clientes comparar autonomias ou consumos, não só entre modelos do mesmo fabricante, mas também entre marcas diferentes. E depois, ao comparar modelos, é provável que um automóvel com uma autonomia WLTP mais elevada tenha, também, na prática, uma autonomia superior. Mas também é possível que os valores anunciados e os reais mostrem desvios.

Palco aos especialistas

Jan Beneš, especialista em ciclos de ensaio de clientes na Skoda, explica que as diferenças podem ser agrupadas em quatro categorias: “A primeira é a física do automóvel, ou seja, a aerodinâmica, o peso e a resistência ao rolamento; a segunda são as condições ambientais, ou seja, o clima e a temperatura exterior; o estilo de condução do condutor também é importante e, claro, o perfil da estrada, que muitas vezes pode ser mais exigente na prática do que a pista de ensaio.” Benes garante que “a condução suave e antecipada, sem acelerações rápidas, em tempo quente, sem vento e numa estrada plana com um automóvel sem carga resulta num menor consumo de combustível e numa maior autonomia”. Mas os condutores raramente conduzem em tais condições ideais. Se o fizerem até podem obter uma autonomia superior e um melhor consumo de combustível do que os números “de fábrica” indicam. Ou seja, na prática, há fatores que significam que o consumo do automóvel aumenta em comparação com o valor declarado e que a autonomia, logicamente, diminui.

A temperatura influencia a autonomia dos veículos elétricos

Um dos fatores que condicionam decisivamente a autonomia é a temperatura exterior, que afeta a eficiência da bateria de tração e a necessidade de aquecer ou arrefecer o interior. O arrefecimento ou o aquecimento não são considerados no ciclo de ensaio. “Para a própria bateria de tração, a temperatura ideal - dentro dos módulos da célula - situa-se entre 10° e 35°C”, garantiu David Pekárek, do departamento de Sistemas de Energia de Alta Voltagem da Skoda. “A temperaturas mais elevadas, o arrefecimento da bateria já será ativado por um sistema de ar condicionado de alta voltagem, que consome eletricidade. A temperaturas mais baixas, devido à natureza dos processos químicos nas células de iões de lítio que ocorrem mais lentamente, a capacidade de carga e descarga da bateria é gradualmente reduzida, o que, por sua vez, reduz a eficiência da regeneração, por exemplo”, explica o responsável da marca checa. “A temperaturas abaixo de zero, a bateria precisa de ser novamente aquecida de uma forma ativa (utilizando um sistema de aquecimento de água de alta voltagem)”, acrescentou.

Elétrico? Eu gosto é do Verão, da primavera e outono

Para os veículos eléctricos, as condições ideais são na primavera ou no outono, quando o sol tem apenas energia suficiente para aquecer o interior a uma temperatura confortável, sem necessidade de utilização do aquecimento ou ar condicionado. A bateria de tração também não necessitará de aquecimento ou arrefecimento ativo. A bateria também é afetada pelo estilo de condução. Com travagens bruscas e acelerações fortes, a bateria pode aquecer e ter de ser arrefecida - mesmo com tempo frio. Por isso, o desempenho do condutor pode afetar o consumo. Além da aceleração e desaceleração, velocidades mais altas podem ter um efeito negativo.

A próxima vez que folhear uma revista da especialidade ou consultar um site sobre automóveis, que mostre ensaios sobre novos modelos, já estará em melhores condições para perceber os detalhes sobre este tema. Nós também vamos estar atentos. Logo que houver novidades, também daremos 'notícias', aqui mesmo, no seu blog preferido sobre mobilidade.

Publicado em {data}

4 de abril de 2023
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