“Estou otimista, mas tudo vai depender da conjuntura internacional”
A propósito da escassez de automóveis no mercado, impunha-se uma entrevista à ACAP. Fomos ouvir Hélder Barata Pedro, o seu Secretário-geral, que nos deixou a perspetiva da Associação e também a das marcas automóveis suas associadas.
Enquanto Associação que representa as marcas automóveis em Portugal, Hélder Barata Pedro tem estado muito perto de todos os problemas relacionados com a falta de automóveis novos nos stands. Nesta breve conversa, na ACAP, no Restelo, tocámos os temas que se impunham.
Como é que a ACAP e os seus associados têm estado a encarar este problema?
Hélder Barata Pedro: Naturalmente, com muita preocupação. Repare que o setor automóvel, sendo um dos mais afetados pela pandemia, foi o único que ainda não recuperou. Em finais de outubro deste ano estávamos 33,7% abaixo, quando comparado com o mesmo período em 2019. Portanto, o nosso mercado perdeu muito volume. É praticamente um terço, o que tem consequências graves.
Que consequências são essas?
H.B.P.: Desde logo em toda a cadeia de valor do automóvel, que envolve os fabricantes, distribuidores e concessionários. Mas também as empresas gestoras de frota, de rent-a-car, os comerciantes de usados e o próprio consumidor que está a ver-se confrontado com períodos de espera muito mais alargados do que antes.
Enquanto Associação, pela vossa observação, este problema tem solução à vista?
H.B.P.: Nós esperamos que se resolva o mais depressa possível. Trata-se de um problema global, muito complexo e com causas muito diversas. Daí, o regresso à normalidade estar a ser tão difícil. Mas acreditamos que o problema vai ser resolvido. Há planos para o fazer e dinheiro da União Europeia para os implementar. Será uma questão de tempo. Há quem defenda que quando este plano for implementado, a Europa vai ficar até com capacidade a mais na produção de semicondutores.
Este problema, as suas causas e consequências, parece estar muito distante da compreensão do consumidor final, que não entende esta demora na chegada de carros ao mercado e a consequente satisfação da sua necessidade. Enquanto ACAP, concorda com esta leitura?
H.B.P.: Sem dúvida que sim. A ACAP tem feito um grande esforço nos meios de comunicação social para ajudar a esclarecer a opinião pública e o consumidor final, que é o nosso cliente. Temos procurado explicar as causas deste problema, que tem uma dimensão tal que a própria Comissão Europeia já lançou um plano para o resolver. Refiro-me ao pacote de apoio para acelerar a produção de chips na Europa, componente que é hoje crítico para a indústria automóvel.
O problema não é de uma marca ou empresa e muitas vezes o consumidor final não o entende...
H.B.P.: Exatamente. O problema não é de uma empresa ou de um concessionário específico. O problema começa a montante e a ACAP, por sua iniciativa ou nos fóruns onde é convidada, tem procurado explicar todas as dimensões. Acredito que a mensagem tem passado e que o consumidor já tem hoje uma noção mais clara das causas e consequências da falta de automóveis novos no mercado.
Enquanto Associação, que medidas implementaram para atenuar os efeitos desta crise?
H.B.P.: Por enquanto tanto a Associação como as próprias marcas foram tomando medidas para lidar com esta crise. Nalguns casos, os clientes receberam o automóvel e foram convidados a regressar mais tarde à assistência técnica da marca para que fosse colocada a peça em falta, desde que esta não seja crítica para a segurança do condutor. Há fábricas que, para não pararem a sua atividade, produzem para stock. Depois, quando o carro chega, volta à linha de montagem para receber essas peças. Estes exemplos mostram que os construtores automóveis, como empresas globais que são, tentaram adaptar-se ao máximo a esta realidade, que não deixa de ser muito penalizadora.
Estamos a entrar no ano 2023, apontado por alguns especialistas como o ano em que vamos começar a ver este problema a resolver-se. Partilha do mesmo otimismo?
H.B.P.: Sim, estou otimista quanto à resolução deste problema. Mas tudo vai depender da conjuntura internacional e macroeconómica que estamos a viver. Se a guerra na Europa não se agravar, se a inflação e as cadeias de distribuição logística seguirem um caminho de estabilização, acredito que temos condições para o desanuviamento do problema.