O efeito da carga no comportamento, consumo e segurança
Carga é igual a peso e o peso tem uma influência direta em toda a dinâmica de um automóvel, desde o comportamento, até ao consumo e passando pela vital segurança.
A função de um veículo comercial ligeiro é transportar carga, pelo que entender os efeitos que esta possui no comportamento, no consumo e na segurança é fundamental para que se possa retirar deste a maior rentabilidade possível da sua utilização, sem nunca comprometer a segurança e até, se possível, reduzir os custos com manutenção.
Antes de mais, conceitos.
A capacidade de carga de um veículo comercial é a diferença entre o peso bruto e a tara do veículo.
O peso bruto de um veículo é o peso total admissível suportado pelo veículo. Em veículos comerciais ligeiros o limite de peso é de 3500 kg.
A tara é a massa do veículo, com o respetivo reservatório de combustível cheio a pelo menos 90 % da sua capacidade, incluindo a massa do condutor, do combustível e demais líquidos, equipado com o equipamento de série em conformidade com as especificações do fabricante e, quando instalados, a massa da carroçaria, da cabina, do engate, das rodas sobresselentes e das ferramentas.
Mas qual é o efeito da carga no comportamento, no consumo e na segurança?
- Carga e comportamento
Colocar carga implica aumentar o peso, o que tem três consequências imediatas no comportamento e manobrabilidade do veículo:
- Aumento da relação peso/potência;
- Alteração da distribuição de peso;
- Impacto no posicionamento do centro de gravidade em altura.
O aumento da relação peso/potência significa que o motor tem de produzir mais trabalho, pelo que existe uma redução das prestações proporcional ao peso da carga carregada, assim como o correspondente aumento de consumo: 50 kg de carga não possuem um efeito significativo no comportamento geral, já 500 kg de carga produzem diferenças nítidas na resposta do veículo, quer nas capacidades de aceleração e recuperação mais lentas, mas também na redução da capacidade de travagem (por aumento da distância de travagem). Ao modificar a distribuição de peso, irá ter impacto direto no posicionamento do centro de gravidade do veículo, quer horizontalmente quer verticalmente, que afetará a estabilidade do veículo, nomeadamente na capacidade de curvar.
- Carga e consumo
O consumo de um veículo é determinado pela quantidade de trabalho que o motor tem de fazer durante o deslocamento, isto é, a potência média que temos de usar. E a quantidade de potência necessária é determinada pela velocidade e peso. Logo, quanto maior a velocidade e o peso, maior o consumo.
De resto, o peso é tão determinante para o consumo que, sempre que possível, desenhar as rotas de forma que o veículo percorra o mínimo de distância possível com pesos elevados resulta em grandes reduções dos custos operacionais. E não é só em matéria de poupança de combustível: mais peso implica maior desgaste dos pneus, dos travões, da suspensão e, regra geral, de todos os componentes mecânicos. Em concreto, quando circulamos com um veículo comercial perto do seu peso máximo permitido, é normal que os consumos aumentem entre 50% a 100% face aos valores realizados sem carga ou com cargas leves.
O efeito do peso no consumo é tão elevado que uma condução adaptada a essa situação, pode resultar em grandes economias. Por exemplo, aprender a usar o relevo é uma destas técnicas. Ou seja, dentro dos limites de segurança, velocidade, e condições de circulação, a utilização de descidas para incrementar a velocidade em vez do acelerador, para que o momento ou energia cinética acumulada auxilie a vencer o declive desfavorável sem necessidade de acelerar mais ou reduzir de relação de caixa; neste exemplo particular, com cargas pesadas, é fundamental otimizar a relação de caixa e manter o regime do motor na sua zona de binário máximo e melhor rendimento térmico.
Por outro lado, adotar uma condução preventiva e preditiva, reduzindo ao máximo o uso de acelerações para recuperar velocidade e dos travões para a reduzir, acaba sempre por resultar em menores consumos e poupança. Na prática, o condutor, que na maior parte das vezes está familiarizado com as rotas utilizadas, pode utilizar o trânsito e os cruzamentos, semáforos, curvas e rotundas de forma a estar, sempre que possível, na velocidade certa para cada momento/situação sem ter de promover acelerações ou travagens desnecessárias. Além da redução de custos que isto permite, outro grande benefício é o aumento da segurança rodoviária.
- Carga e segurança
A carga aumenta o peso e um veículo mais pesado fica com o comportamento dinâmico degradado; quanto maior for o aumento de peso maior a degradação que devemos esperar. Quer isto dizer que é mais lento a acelerar, precisa de mais metros para parar, perde estabilidade em curvas e pisos degradados, possuindo mais inércia e menor agilidade, tudo aspetos que retiram capacidade de executar manobras de emergência e dificultam o controlo na execução das mesmas. Por outras palavras, um veículo carregado e pesado tem uma segurança dinâmica reduzida, precisando assim de uma condução adaptada a essas circunstâncias.
Ora, atualmente todos os vendidos novos possuem controlos de tração e estabilidade de série. Todos estes equipamentos representam mais valias de segurança e ajudas à condução, facilitando o controlo por parte do condutor perante situações imprevistas. Assim, se a carga reduz a capacidade de reação rápida do veículo, é muito importante antecipar em vez de reagir.
Conclusão
O comercial ligeiro serve para transportar cargas, pelo que, sempre que estas superam os 50/100 kg de peso (para além de ter de estar sempre bem acondicionada e corretamente colocada, já que carga mal posicionada e/ou solta provoca problemas de perda de estabilidade tão graves que podem levar a perdas de controlo ou capotamentos, sobretudo cargas líquidas), devemos corrigir a pressão dos pneus (aumentar para o valor que o livro de instruções recomenda para carga) e adotar uma condução adequada ao peso transportado.
A adequação do veículo às necessidades operacionais é igualmente fundamental, não só para otimizar a operação, como para reduzir os custos totais de operação, quer a nível de consumos quer ao nível da manutenção e longevidade.